domingo, 13 de junho de 2010


Introdução a Igreja Ortodoxa

Esse pequeno artigo faz parte da The Orthodox Study Bible e foi traduzido pelo amigo José Lauro Strapason. Apesar de ser bem simples, esse pequeno artigo nos dá um panorama do que é a Igreja Ortodoxa.

Introdução a Igreja Ortodoxa

A publicação da "Bíblia de Estudo Ortodoxa" levanta uma questão: o que é exatamente a Igreja Ortodoxa? Muitas pessoas ouviram da Igreja Ortodoxa Russa, que comemorou seus milésimo aniversário em 1988, ou a Igreja Ortodoxa Grega, que nasceu séculos antes. Mas a Ortodoxia em si-o que é, e quais são suas raízes históricas?

A Igreja no Novo Testamento.


Para responder esta questão, volte as páginas do Novo Testamento, especificamente ao Livro dos Atos dos Apóstolos e o nascimento da Igreja em Pentecostes. Naquele dia o Espírito Santo desceu sobre os Doze Apóstolos e aquelas reunidos na sala mais alta, e pela tarde cerca de três mil almas acreditaram em Cristo e foram batizadas. As Escrituras registram que quando a primeira comunidade cristã começou, "eles preservaram na doutrina dos Apóstolos e no seguimento, na partilha do pão, e nas orações" (Atos 2,42).

De Jerusalém, a fé em Cristo se espalhou por toda a Judéia, para Samaria (Atos 8,5-39), para Antioquia e aos Gentios (Atos 11,19-26). Logo houve novos convertidos e novas igrejas pela Ásia menor e Império romano como registrado nos Atos e nas Epístolas.

A Igreja, é claro, não era simplesmente uma outra organização na sociedade romana. O Senhor Jesus Cristo havia dado a promessa do Espírito Santo para "vos guiar em toda a verdade" (João 16,13) com o cumprimento desta promessa começando em Pentecostes, a Igreja tem mais que um condição meramente institucional. Ela não é uma organização com mistérios, mas um mistério com organização. São Paulo chama a Igreja de "local de morada de Deus pelo Espírito" (Ef. 2,22). A Igreja é um organismo dinâmica, o corpo vivo de Jesus Cristo. Ela causa um impacto indelével no mundo, e os que vivem em Sua vida e fé são pessoalmente transformados.

Mas o Novo Testamento também revela que a Igreja também teve sua quantia de problemas. Nem tudo era perfeito. Algumas pessoas dentro da Igreja mesmo buscaram levar Ela fora do caminho que os apóstolos estabeleceram, e eles tiveram que serem tratados juntos com os erros que eles inventaram. Mesmo comunidades locais inteiras erraram em ocasiões e foram chamadas ao arrependimento. A igreja em Laodicéia é um exemplo vivo (Ap 3,14-22). A disciplina foi administrada pelo amor da pureza na Igreja. Mas houve crescimento e maturação, mesmo a Igreja sendo atacada por dentro e por fora. O mesmo Espírito que lhe deu o nascimento, deu a Ela poder para pureza e correção, e Ela cresceu forte invadindo todo o Império Romano.

Os Primeiros Séculos

Como a Igreja se move das páginas do Novo Testamento e adentro dos séculos seguintes de Sua história, seu crescimento e desenvolvimento pode ser traçado em termos de categorias específicas. A primeira é uma categoria importante para todo o povo cristão: doutrina. Ela manteve a verdade de Deus como dada por Cristo e Seus Apóstolos? Segundo, e quanto ao culto? Existe um caminho claro em que o povo de Deus tem oferecido um sacrifício de louvor e ação de graças a Ele? Terceiro, a respeito do governo da Igreja. Que tipo de política tem a Igreja praticado?

1. Doutrina: Não apenas a Igreja começou sob o ensinamento dos Apóstolos mas Ela também foi instruída para "ficar inabalável e guardar firmemente as tradições que vos foram ensinadas, de viva voz ou por carta" (2Ts 2,15). O Apóstolo Paulo insistiu que aquelas dadas por ele e por seus colegas apóstolos, tanto pessoalmente como em escrito que haveriam de serem chamadas de Novo Testamento, fossem aderidas com cuidado. Assim seguindo tais avisos apropriados como "em nome de nosso Senhor Jesus Cristo... retirai-vos de todo irmão que anda desordenadamente, e não de acordo com a tradição que ele recebeu de nós" (2 Ts 3,6).

As doutrinas ensinadas por Cristo e Seus discípulos são para serem salvaguardadas pela "Igreja do Deus vivo, a coluna e sustentáculo da verdade" (1 Tm 3,15) e não estão abertas para renegociação. E a Igreja ainda era jovem quando um modo foi encontrado para providenciar esta salvaguarda.

Pela metade do primeiro século, uma disputa se levanta em Antioquia sobre a aderência das leis do Antigo Testamento. A matéria não podia ser resolvida lá (Antioquia); ajuda de fora foi necessária. Os líderes da Igreja de Antioquia, a comunidade que havia primeiramente despachado Paulo e Barnabé como missionários, trouxe a matéria à Jerusalém para ser considerada pelos apóstolos e anciãos lá. A matéria foi discutida, debatida, e uma decisão escrita foi dada para o futuro.

Tiago, irmão do Senhor e primeiro bispo de Jerusalém, avançou a solução do problema. Esta determinação, concordada por todos no que é conhecido como Concílio (Apostólico) de Jerusalém (At 15,1-35), fixou o padrão o uso dos concílios da Igreja nos séculos vindouros para resolver as questões doutrinárias e morais que aparecem. Assim, pela história da Igreja, nós achamos contagens de tais concílios em vários níveis para resolver matérias de disputa e para tratar com aqueles que não aderiam a fé apostólica.

Os primeiros três séculos da história cristã foram também marcados pela aparição de certas heresias ou ensinamentos falsos tais como esquemas filosóficos secretos para a elite (Gnosticismo), deslumbrantes aberrações proféticas (Montanismo) e graves erros a respeito das Três Pessoas da Trindade (Sabelianismo). Então, no inicio do quarto século, uma heresia com potencial para um largo rompimento na Igreja apareceu, propagada por um tal de Ario, um padre em Alexandria, Egito. Ele negou a eternidade do Filho de Deus, clamando contrariamente a doutrina dos apóstolos que o Filho era uma criatura que veio a existência num dado momento do tempo, sendo assim não era o verdadeiro Deus.

Este erro mortal atingiu a Igreja como um câncer. Tumulto se espalhou quase em toda parte. O primeiro grande Concílio da Igreja, ou Ecumênico, se reuniu em Nicéia em 325 para tratar deste assunto. Alguns 318 bispos, juntos com muitos padres, diáconos, e leigos rejeitaram o novo ensinamento de Ario e seus associados, mantendo a doutrina dos apóstolos de Cristo, afirmando a eternidade do Filho de Deus e Sua consubstancialidade com o Pai. Sua proclamação do ensino apostólico a respeito de Cristo incluiu um Credo, que, com as adições a respeito do Espírito Santo feitas em 381 no Concílio de Constantinopla, forma o documento conhecido hoje como o Credo Niceno.

Entre os anos 325 e 787, sete tais grandes conclaves da Igreja ocorreram, se reunindo nas cidades de Nicéia, Éfeso, Calcedônia e Constantinopla. Conhecidos como os Sete Concílios Ecumênicos, todos trataram primeiramente e principalmente com alguns específicos desafios ao ensinamento apostólico a respeito de Jesus Cristo. O Terceiro Concílio Ecumênico (431), por exemplo, condenou os Nestorianos-aqueles que dividiriam Cristo em duas pessoas, uma humana e a outra divina. Os Nestorianos estavam concentrados na Pérsia e para o oriente, e quando alguns dos bispos nestorianos não aceitaram a decisão do Concílio, a Igreja experimentou seu primeiro cisma territorial. Evangelisticamente ativa, os Nestorianos formaram comunidades na Arábia, Índia e tão longe quanto a China. Um remanescente ainda existe precariamente no Curdistão, Iraque, Síria e nos Estados Unidos.

Entre as matérias tratadas pelo Quarto Concílio Ecumênico (451) estava a heresia dos Monofisitas, que clamaram que havia apenas uma natureza em Cristo. Alguns clamaram que as duas naturezas de Cristo estavam unidas em uma, fazendo Ele nem Deus nem homem. Outros acreditaram que a natureza divina tinha engolido a natureza humana, e ainda outros Monofisitas acreditaram que o Filho havia deixado Sua natureza divina para trás quando se tornou homem.

A Igreja Monofisita ainda existe na Síria, Armênia, e Egito. Existem, entretanto, novidades encorajadoras porque as igrejas que partiram após o Concílio trabalharam num acordo com a Igreja Ortodoxa, satisfazendo os teólogos ortodoxos com sua correção de doutrina. Conseqüentemente, uma ruptura de cerca de 1500 anos está na beira de ser curada.

Pelos primeiros mil anos da história cristã, a Igreja inteira, salvo pelos hereges, abraçou e defendeu a fé apostólica do Novo Testamento. Não houve divisão conseqüente. Esta unica fé foi preservada através dos julgamentos, ataques e testes, esta doutrina apostólica é chamada de "a Fé Ortodoxa".

2. Culto: A pureza doutrinal foi tenaciosamente mantida, mas a verdadeira cristandade é muito mais do que apenas a adesão a um conjunto correto de crenças. A vida da Igreja é é centralmente expressa em seu culto e adoração de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Jesus mesmo disse a mulher ao poço, "esta chegando a hora, e é agora, que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, porque o Pai busca tal tipo de adoradores" (Jo 4, 23)

Na ultima ceia, Jesus instituiu a Eucaristia, o serviço da comunhão quando Ele tomou pão e vinho, deu a benção e disse aos Seus discípulos "Este é meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de Mim" e "Este cálice é o Novo Testamento em Meu sangue, que é derramado por vós" (Lc 22;19,20). A Igreja participou na comunhão ao menos a cada dia do senhor (At 20,7;11). De fontes do primeiro e segundo século tais como a Didaqué, as cartas de Santo Inácio de Antioquia e os escritos de São Justino Mártir, nós temos certeza que a Eucaristia é o exato centro da adoração cristã da era apostólica em diante.

Também, assim como a Lei, os Salmos, e os Provérbios eram lidos no culto no templo e nas sinagogas em Israel, assim a Igreja deu imediatamente alta prioridade a leitura publica da escritura em seu culto, assim como a ceia eucarística.

Mesmo antes da metade do primeiro século, o culto cristão foi conhecido com o termo liturgia que literalmente significa "o trabalho comum" ou "o trabalho do povo". A antiga liturgia de culto da Igreja era composta era composta de duas partes essenciais: (1) A liturgia da palavra, incluindo hinos, leitura das Escrituras, e pregações e (2) a liturgia dos fiéis, composta de orações de intercessão, o beijo da paz, e a Eucaristia. Desde virtualmente o inicio, o culto cristão tem uma forma definida que continua até o dia de hoje.

Cristãos modernos que defendem liberdade da liturgia no culto ficam algumas vezes surpresos ao saber que a espontaneidade nunca foi a pratica na Igreja antiga! Uma forma básica do culto cristão foi observada desde o inicio, e, a medida que a Igreja cresceu e amadureceu, a liturgia amadureceu também. Hinos, leitura das Escrituras, e orações foram entrelaçados na fundação básica. Uma clara, propositada procissão pelo ano foi estabelecida que marcou e uniu em palavra, canto e oração o nascimento, ministério, morte, Ressurreição, e Ascensão do Senhor Jesus Cristo, e santificou aspectos cruciais da vida e experiência cristã. A vida cristã era vivida em realidade no culto da Igreja. Muito longe de ser apenas uma rotina chata, o culto ritual da Igreja histórica participou no drama desdobrante das riquezas e mistérios próprio Evangelho!

Mais ainda, marcos específicos em nossa salvação e caminhada com Cristo foram celebrados e santificados. Batismo e a unção com o óleo, ou crisma, estavam lá desde o inicio. Matrimônio, cura, confissão dos pecados, e ordenação ao ministério do Evangelho são outros ritos primitivos na Igreja. Em cada uma destas ocasiões os cristãos entenderam que em um grande mistério, graça e poder de Deus estavam sendo dados de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa. A Igreja viu estes eventos como momentos santos em sua vida e os chamou de mistérios ou sacramentos.

3. Governo:


Ninguém seriamente questiona se os Apóstolos de Cristo governaram a Igreja em seu começo. Foi lhes dado o mandamento de pregar o Evangelho (Mt 28,19-20) e a autoridade para perdoar ou manter os pecados (Jo 20,23). A missão deles não era de modo algum de pregação! Eles construíram a Igreja sob a liderança de Cristo. Para governar ela, ofícios definidos e permanentes, como ensinado no Novo Testamento, estavam em evidência.

a. O ofício do bispo: Os próprios apóstolos foram os primeiros bispos na Igreja. Mesmo antes de Pentecostes, após Judas se tornar traidor, Pedro declarou aplicando o Salmo 109,8 "Que outro pegue seu ofício" (Atos 1,20). Isto se refere, obviamente, ao ofício de bispo.

Alguns erroneamente argumentaram que o ofício de bispo uma invenção posterior. Muito ao contrário, os apóstolos eram eles mesmos bispos, e apontaram bispos para sucederem eles para levar a Igreja em cada localidade.

Ocasionalmente, a objeção ainda é ouvida que o ofício de bispo e presbítero eram originalmente idênticos. Os termos são usados ao mesmo tempo no Novo Testamento enquanto os apóstolos estavam presentes, com um bispo sendo o ancião presidindo uma igreja local. Após a morte dos apóstolos, os ofícios de bispo e presbítero se tornaram distintos pela Igreja. Inácio de Antioquia, consagrado bispo pelo ano 70AD na Igreja em que Paulo e Barnabé foram enviados, escreve logo após a virada do século que bispos apontados pelos apóstolos, rodeados por seus presbíteros, estavam por toda parte na Igreja.

b. O ofício do presbítero: Anciãos e presbíteros são mencionados bem no inicio na vida da Igreja nos Atos e nas Epístolas. Evidentemente em cada lugar em que uma comunidade cristã se desenvolveu, anciãos foram apontados pelos apóstolos para pastorear o povo.

Na medida em que o tempo passou, os presbíteros passaram a serem designados na forma curta da palavra como "padres", ao invés de "sacerdotes" (N.T. "prests" e "priests" no original), na completa visão do fato que o sacerdócio da Antiga Aliança havia sido completado em Cristo e que a Igreja é corporalmente um sacerdócio de crentes. O padre não foi entendido como um intermediário entre Deus e o povo e nem um dispenseiro de graça. O papel do padre era ser a presença de Cristo na comunidade cristã, e na exata capacidade de ser a presença do Pastor Chefe, o padre estava para guardar o povo de Deus.

c. O ofício do diácono: O terceiro grau de ordem ou ofício no governo da Igreja do Novo Testamento era o diácono. Primeiramente os apóstolos preenchiam esta tarefa eles mesmos, mas com o rápido crescimento da Igreja, sete diáconos iniciais foram selecionados (Atos 6,1-7) para ajudar a manter a responsabilidade do serviço aos necessitados. Um dos diáconos, Estevão, se tornou o primeiro mártir da Igreja.

Através dos séculos, os diáconos não serviram apenas as necessidades materiais da Igreja mas tiveram um papel vital na vida litúrgica da Igreja também. Freqüentemente chamados os "olhos e ouvidos do bispo", muitos diáconos se tornaram padres e por ultimo entraram no ofício episcopal.

A autoridade do bispo, padre e diácono não foi no passado entendida entendida como estando separada do povo mas sempre entre o povo. Por sua vez o povo de Deus foi chamado a se submeter a aqueles que governavam sobre eles (Hb 13,17), e eles também foram chamados para darem sua concordância à direção dos líderes da Igreja. Em um número de ocasiões da história, este "Amém" não foi imediato, e os bispos da Igreja tomaram nota e mudaram de curso. Mais tarde na história, muitos líderes da Igreja deixaram o antigo modelo e usurparam autoridade para si mesmos. No meio de alguns, isto levou o modelo ancião a ser questionado, mas o problema não estava no modelo. Estava no desvio.

Também foi o ministério dos apóstolos que trouxe o povo de Deus junto como laicado. Longe de ser apenas observadores, o laicado é vital na efetividade da Igreja. Eles são os recipientes e usuários ativos dos dons e graças do Espírito. Cada membro do laicado tem um papel na vida e função da Igreja. Cada um deve suprir alguma coisa ao todo (1 Cor 12,7). A responsabilidade dos bispos, dos padres, e diáconos é ter certeza que isto é uma realidade para os leigos.

O culto da Igreja no fim de seus primeiros mil anos tinha substancialmente a mesma forma de lugar para lugar. A doutrina era a mesma. A Igreja toda confessava um Credo, o mesmo em toda parte, e havia resistido a muitos ataques. O governo da Igreja era reconhecido em toda parte, e esta Igreja Una era a Igreja Ortodoxa.

Desentendimentos entre Ocidente e Oriente

Tensões começaram a se amontoar na medida em que o primeiro milênio encerrava. Enquanto numerosos fatores doutrinários, políticos, econômicos e culturais estavam trabalhando para separar a Igreja numa divisão Oriente-Ocidente, dois maiores assuntos emergiram sobre os outros: (1) que um homem, o Papa de Roma, considerou a si mesmo o bispo universal da Igreja e (2) a adição de uma cláusula nova ao credo da Igreja.

1. O Papado: Entre os Doze, São Pedro foi desde o início reconhecido como o líder. Ele foi o porta voz dos Doze antes e depois de Pentecostes. Ele foi o primeiro bispo de Antioquia e depois bispo de Roma. Ninguém duvida de seu papel.

Após a morte dos apóstolos, na medida que a liderança na Igreja se desenvolveu, o bispo de Roma veio a ser reconhecido como primeiro em honra, apesar de todos os bispos serem iguais. Mas após cerca de trezentos anos, o bispo de Roma vagarosamente começou a assumir um papel de superioridade sobre os outros, por ultimo clamando ser o único verdadeiro sucessor de Pedro. A vasta maioria dos outros bispos da Igreja nunca questionou a primazia de honra de Roma, mas eles patentemente rejeitaram os clamores do bispo de Roma de ser a cabeça universal da Igreja na terra. Esta suposição do poder papal se tornou um fator maior em separar a Igreja Romana, e todos os que ela pode reunir com ela, da Igreja Ortodoxa histórica.

2. A Adição ao Credo: Um desentendimento a respeito do Espírito Santo também começou a se desenvolver na Igreja. O Espírito Santo procede do Pai? Ou Ele procede do Pai e do Filho?

Nosso Senhor Jesus Cristo ensina, "Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim" (Jo 15,26). Esta é a declaração básica no Novo Testamento a respeito da "procedência" do Espírito Santo, e é claro: Ele "procede do Pai". Assim, quando o antigo Concílio em Constantinopla (381) reafirmando o Credo de Nicéia (325), expandiu aquele Credo proclamando estas palavras familiares: "E no Espírito Santo, o Senhor Vivificante, Que procede do Pai, Que é adorado e glorificado junto com o Pai e o Filho...".

Duzentos anos depois, entretanto, em um concílio local em Toledo, Espanha, (589), o Rei Ricardo declarou, "O Espírito Santo também deve ser confessado e ensinado por nós procedendo do Pai e do Filho." O rei pode ter tentado dizer bem, mas ele estava contradizendo o ensinamento de Jesus, confessado pela Igreja inteira, a respeito do Espírito Santo. Infelizmente, o concílio local espanhol concordou com este erro, e, séculos depois, na quilo que foi ao menos parcialmente um um movimento motivado politicamente, o papa de Roma unilateralmente alterou o Credo universal da Igreja sem um concílio ecumênico. Apesar desta mudança ter sido inicialmente rejeitada tanto no oriente como no ocidente mesmo pelos bispos vizinhos mais próximos do papa, o papa conseguiu eventualmente que todo o ocidente capitulasse. A conseqüência, é claro, na Igreja do Ocidente foi a tendência de relegar o Espírito Santo a um lugar menor do que Deus o Pai e Deus o Filho. A mudança pode parecer pequena, mas as conseqüências se mostraram desastrosamente imensas. Este assunto, com o Papa partindo da doutrina Ortodoxa da Igreja, se tornou outra causa instrumental separando a Igreja Romana da Igreja Ortodoxa histórica, a Igreja do Novo Testamento.

O Grande Cisma

Conflito entre o Papa de Roma e o Oriente montado-especialmente nas atitudes do papa com o bispo, ou patriarca de Constantinopla. O papa indo mesmo muito longe ao ponto de clamar a autoridade para decidir quem deveria ser o patriarca de Constantinopla em notável violação de precedente histórico. Não mais operando dentro do governo da Igreja do Novo Testamento, o papa pareceu estar procurando por meios políticos trazer toda a Igreja sob seu domínio.

Intrigas bizarras se seguiram, uma atrás da outra, como uma série de papas romanos procurando este firme objetivo de tentar controlar toda a cristandade. Talvez o incidente mais incrível destes esquemas políticos, religiosos, e até mesmo militares ocorreu no ano 1054. Um cardeal, mandando pelo papa, deixou um documento no altar da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla durante a oração dominical, excomungando o Patriarca de Constantinopla da Igreja.

O papa, é claro, não tinha direito legitimo de fazer isto, mas as repercussões foram assombrosas. Alguns capítulos escuros da história da Igreja foram escritos durante as décadas seguintes. A conseqüência ultima das ações do papa foi que toda a Igreja Católica Romana terminou separada da fé do Novo Testamento da Cristandade ortodoxa. O cisma nunca foi curado.

A medida que os séculos passaram, os conflitos continuaram. Tentativas de reunião falharam e a Igreja Romana se afastou mais ainda de suas raízes históricas.

Mais Divisões no Ocidente.

Durante os séculos posteriores a 1054, a crescente distinção entre oriente e ocidente se tornou uma marca permanente na história. A Igreja oriental manteve a completeza da fé, do culto e da prática do Novo Testamento. A Igreja ocidental ou romana se atolou em muitos problemas complexos. Então, menos de cinco séculos após Roma se comprometer com sua alteração unilateral de doutrina e prática, um outro motim ocorreu-desta vez dentro dos portões ocidentais.

Apesar que muitos no ocidente haviam falado contra a prática e dominação romana no começo, agora um monge alemão pouco conhecido chamado Martinho Lutero inadevertidamente lançou um ataque contra certas práticas Católico Romanas que terminou afetando a história mundial. Sua lista de Noventa e Cinco teses foi pregada na porta da igreja em Wittenberg em 1517, sinalizando o inicio do que haveria de ser chamado a Reforma Protestante. Lutero não intencionou rompimento com Roma, mas ele não pode ser reconciliado ao seu sistema papal de governo como bem outras questões de doutrina. Ele foi excomungado em 1521, e a porta para a unidade futura no ocidente fechou batendo com um ressoante estrondo.

As reformas que Lutero buscou na Alemanha foi logo acompanhada pelas demandas de Ulrich Zwingli em Zurique, John Calvin em Genebra, e centenas de outros por toda a europa ocidental. Abastecido por fatores políticos, sociais e econômicos complexos em adição em adição aos problemas religiosos, a Reforma espalhou como um fogo furioso virtualmente em cada canto e buraco da Igreja Romana. O monopólio eclesiástico ao qual ela havia crescido acostumada foi grandemente diminuído, e massiva divisão substituiu a unidade. O efeito continuo daquela divisão aparece mesmo hoje na medida em que o movimento Protestante continua se dividindo.

Se os problemas no continente europeu já não eram suficientes, a Igreja da Inglaterra estava no processo de seguir seu próprio caminho de igual forma. Henrique VIII, entre seus problemas matrimôniais, substituiu o papa de Roma por si mesmo como cabeça da Igreja da Inglaterra. Por apenas os poucos curtos anos em que Maria estava no trono o papa novamente teve uma ascendência na Inglaterra. Elisabete I retornou a Inglaterra ao Protestantismo, e a Igreja da Inglaterra experimentaria logo ainda mais divisões.

A medida que décadas passavam no ocidente, os ramos do Protestantismo continuaram a se dividir. Houve mesmo ramos que insistiram que eles não eram nem Protestantes nem Católicos Romanos. Todos pareceram compartilhar um desgosto pelo bispo de Roma e as práticas de sua igreja, e a maioria quis uma forma menos centralizada de liderança. Enquanto alguns, como os luteranos e anglicanos, mantiveram certas formas de liturgia e sacramentos, outros, tais como as igrejas reformadas e os ainda mais radicais anabatistas e seus descendentes, questionaram e rejeitaram muitas idéias bíblicas de hierarquia, sacramento, tradição histórica, pensando que estavam se libertando apenas do Catolicismo romano. Até hoje, muitos modernos e sinceros cristãos professos irão rejeitar mesmo os os dados bíblicos que falam da prática histórica cristã, simplesmente porque eles pensam que tais práticas são "Católico romanas". Para usar um velho provérbio, eles lançaram o bebe fora com a água do banho sem mesmo se perceberem disto.

Assim, embora mantendo em graus variados porções da fundação da cristandade, nem o Protestantismo nem o Catolicismo pode reivindicar o ser a verdadeira Igreja do Novo Testamento. Ao se separar da Cristandade ortodoxa, Roma perdeu seu lugar na Igreja do Novo Testamento. Nas divisões da reforma, os Protestantes--como bem--significando como se eles estivesse estado--fracassaram em retornar a Igreja do Novo Testamento.

A Igreja Ortodoxa Hoje




Aquela Igreja original, a Igreja de Pedro, Paulo, e dos outros apóstolos-apesar de perseguição, opressão política, e deserção em certos de seus flancos-miraculosamente mantem hoje a mesma fé e forma de vida da Igreja do Novo Testamento. Admitidamente, o estilo da Ortodoxia parece complicado para o olho protestante moderno, mas dado um entendimento histórico de como a Igreja progrediu, poderá ser visto que a simples fé dos apóstolos centrada no Cristo é completamente preservada em suas doutrinas, práticas, serviços, e mesmo em sua arquitetura.

Na Ortodoxia hoje, na medida que os anos passam, as bases da doutrina cristã, culto, e governo nunca estão sujeitos a alteração. Alguém não pode ser um padre ortodoxo, por exemplo, e rejeitar a divindade de Cristo, Seu nascimento virginal, Ressurreição, Ascensão aos céus, e Segunda vinda. A Igreja simplesmente não deixou seu curso por cerca de dois mil anos. Ela é a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.

A Ortodoxia é também, nas palavras de um de seus bispos, "o segredo mais bem guardado na América". Apesar de haver mais de 225 milhões de cristãos ortodoxos no mundo hoje, muitos no ocidente não são familiares com a Igreja. Na América do Norte, por exemplo, a Igreja Ortodoxa tem, até recentemente, sido largamente restrita por vínculos étnicos, não espalhando muito além das paróquias de comunidades de imigrantes que trouxeram a Igreja para as costas deste continente.

Ainda, o Espírito Santo continuou Seu trabalho, fazendo com que novas pessoas descobrissem esta Igreja do Novo Testamento. As pessoas começaram a descobrir a cristandade ortodoxa através dos escritos dos Padres da Igreja antiga e através dos humildes testemunhos dos cristãos ortodoxos contemporâneos. Um número significante de evangélicos, episcopais, e principalmente protestantes estão se tornando ortodoxos e grupos de estudantes ortodoxos estão se espalhando em diversos campi pelo mundo afora. A palavra está se espalhando a fora.

O que, então, é a Igreja Ortodoxa? Ela é a primeira Igreja Cristã na história, a Igreja fundada pelo Senhor Jesus Cristo, descrita nas páginas do Novo Testamento. Sua história pode ser traçada continuamente sem quebra para trás até Cristo e Seus Doze Apóstolos.

O que falta nas igrejas não ortodoxas--mesmo na melhor delas? Completeza. Porque a completeza da fé do Novo Testamento só é encontrada na Igreja do Novo Testamento. Estar na Igreja não garante que todos nela irão tomar vantagem da completeza da fé, mas que a completeza está lá para aqueles que o fizerem.

Para as pessoas que seriamente desejam a completeza do Cristianismo Ortodoxo, uma ação precisa ser tomada. Ter consciência desta Igreja anciã não é o suficiente. Precisa haver um retorno para esta Igreja do Novo Testamento. Em nossos dias muitas pessoas tomaram grande tempo para investigar e decidir a respeito da fé católica romana, da batista, da luterana, e assim por diante, mas relativamente poucos consideraram seriamente a Igreja Ortodoxa. Três sugestões especificas irão providenciar à aqueles interessados com meios tangíveis de se tornarem familiarizados com a cristandade ortodoxa de forma pessoal.

1. Visite: Procure por "Ortodoxa" ou "Ortodoxa Grega, Antioquina, Russa, etc" (1) na seção "Igrejas" das páginas amarelas ou pergunte a um vizinho onde fica a paróquia ortodoxa mais perto. Faça uma visita--diversas visitas. Encontre o padre, e peça a ele para o ajudar a estudar e aprender. E esteja preparado para exercitar sua paciência--as vezes uma porção da liturgia não é em português (2)! O livrinho da missa no banco irá ajudar.

N.T. (1) "Eastern Orthodox" no original. (2) Inglês no original. (3) No Brasil, você encontra endereços de paróquias ortodoxas canônicas no seguinte site:

http://www.ecclesia.com.br/igreja_ortodoxa/diretorio.html

2. Leia: Existe um bom número de livros e periódicos imensamente úteis para as pessoas procurando aprender a respeito da Igreja Ortodoxa. "The Orthodox Church" de KALLISTOS (Timothy) Ware (Penguin); For the Fife of the World de Alexander Schmemann (St. Vladimir Seminary Press); The Apostolic Fathers editado por N. Sparks (Light and Life Publishers), Becoming Orthodox por Peter E. Gilquist, e Divine Energy por Jon E. Braun e AGAIN Magazine (ambos pela Conciliar Press).

N.T. Infelizmente em português ainda não existe literatura impressa disponível (existem algumas publicadas pela Igreja Sérvia no Brasil). Mas existe material razoável na internet como em alguns blogs (existe uma lista de blogs que recomendo que coloquei na barra lateral) e em páginas como:

http://www.fatheralexander.org/

http://www.ecclesia.com.br/

3. Escreva: As pessoas na Conciliar Express (P.O. Box 76, Ben Lomond, CA 95005-0076) tem voluntariamente respondido as questões a respeito da Igreja Ortodoxa dos leitores da Bíblia de Estudos Ortodoxa e sugerido leitura adicional. Mande seu nome e endereço com um pedido de informação.

N.T. Em português sugiro a participação no orkut, facebook ou então em fóruns citados abaixo:

Apologética da Igreja Ortodoxa
Cristãos Ortodoxos no Brasil
Cristãos Ortodoxos no Brasil

A Ortodoxia Brasil

Em um dia, quando os cristãos estão percebendo novamente a centralidade e importância do culto, da Igreja como corpo de Cristo, e a necessidade de preservar a verdadeira fé cristã, as portas da Ortodoxia estão amplamente abertas. O convite é estendido para "vinde e vede". Examine sua Fé, seu culto, sua história, seu compromisso com o Cristo, seu amor para com Deus o Pai, e sua comunhão com o Espírito Santo.

Por dois mil anos a Igreja Ortodoxa tem, por misericórdia de Deus, mantida a fé dada aos santos. Dentro de suas paredes se encontra a completeza da Salvação que foi percebida quando "Deus amou o mundo de tal maneira que entregou Seu Unico Filho para que todo aquele que crê Nele não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).

sábado, 12 de junho de 2010

Cristianismo e Budismo

A Igreja Ortodoxa e as religiões orientais

Um padre cristão ortodoxo me contou que seu filho de 26 anos tomara a decisão de sair de casa e se mudar para um mosteiro budista. O padre estava desconsolado. Afinal, a Ortodoxia não era algo estranho para seu filho, nem mesmo a tradição monástica, pois o rapaz já havia visitado e se hospedado em mosteiros ortodoxos por diversas vezes. Até mesmo na Santa Montanha o rapaz esteve, por dois meses seguidos.

A transferência desse rapaz para uma tradição religiosa oriental não-cristã não é um fato isolado. As religiões orientais estão crescendo bastante na América do Norte e, hoje, representam uma força competitiva real na vida religiosa. O Budismo é atualmente o quarto maior grupo religioso dos EUA, com aproximadamente 2,5 a 3 milhões de adeptos, dos quais uns 800 mil são de americanos "convertidos". Nos EUA, há mais budistas do que cristãos ortodoxos. O Dalai Lama (líder de uma das seitas budistas tibetanas) é uma das pessoas mais reconhecidas e admiradas do mundo e, sem dúvida, é muito mais conhecido do que qualquer hierarca cristão ortodoxo. Dê uma olhada na seção de revistas da Borders ou da Barnes & Noble. Você vai encontrar mais revistas com nomes como Shambala Sun e Buddhadharma do que revistas cristãs.

Além de perder buscadores para as tradições orientais não-cristãs (muitos dos quais são jovens), a metafísica oriental infiltrou-se na cultura ocidental sem que ninguém notasse. Por exemplo, quantas vezes você já ouviu frases como "você tem um bom karma"? Karma é um termo hindu que tem a ver com as conseqüências do que você fez em vidas passadas (reencarnação). Eles estão sendo mais eficazes em "evangelizar" nossa cultura do que nós, cristãos ortodoxos.

O Senhor foi muito claro quando disse para que em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações (Lucas 24:47). O número de budistas (entre os quais há muitas seitas) e hindus cresce a olhos vistos na América -- nas salas de aula, nos campos de futebol, nos shopping centers. Eles representam um "campo missionário" em potencial para a Igreja Ortodoxa nos EUA. Infelizmente, com raras exceções, como as obras do Hieromonge Damasceno [Christensen] e de Kyriakos S. Markides, nós não estamos falando a essa gente.

Pois eu lhes digo, como ex-hindu e discípulo de um famoso guru, que o Cristianismo Ortodoxo tem muito mais a ver com as tradições orientais não-cristãs do que qualquer outra confissão cristã. O fato é que os protestantes tentam evangelizar os buscadores orientais e a emenda acaba saindo pior do que o soneto. A abordagem que eles adotam é culturalmente ocidental, racionalista e jurídico-legalista, e eles pouco ou nada entendem dos paradigmas e da linguagem espiritual dos buscadores dessas tradições orientais.

Os budistas e hindus compartilham três "princípios metafísicos fundamentais":

1. Há uma realidade "supra-natural" que subsume e pervade o mundo fenomênico. Tal Realidade Suprema não é pessoal, mas transpessoal. Deus, ou a Realidade Suprema, é, em última instância, uma "consciência pura", desprovida de atributos.

2. A alma humana é consubstancial com essa Realidade Suprema. A natureza humana inteira é, em essência, divina. Segundo essas tradições, Cristo ou Buda não são salvadores, mas são apenas paradigmas de auto-realização, o objetivo de toda a humanidade.

3. A existência é fundamentalmente uma unidade (monismo). A criação não é aquilo que parece a olho nu. Em essência, ela é "ilusória", "irreal" e "impermanente". Há um grau de ser (pense no "campo quântico" da Física.) que unifica todos os seres e do qual e no qual tudo pode ser reduzido.

O que esta metafísca tem em comum com a fé cristã ortodoxa? Não muito, à primeira vista. Mas acontece que, nas tradições orientais não-cristãs, o conhecimento não é apenas um desenvolvimento teológico ou a disseminação de uma doutrina metafísica. Eis um dos pricipais problemas que os cristãos ocidentais enfrentam quando tentam se comunicar com os buscadores orientais. As religiões orientais jamais são teóricas ou doutrinais. Elas têm mais a ver com o esforço para se libertar do sofrimento e da morte. Essa ênfase "existencial" é o primeiro ponto em comum com a Ortodoxia, pois a Ortodoxia, em sua essência, enfatiza o aspecto transformacional.

O segundo ponto em comum da fé ortodoxa com os budistas e hindus é o estado corrupto da humanidade e da consciência humana. O objetivo da vida cristã, segundo os Padres da Igreja, é sair desse estado "sub-natural" ou "caído" em que estamos (sujeitos à morte) para um estado "natural" ou "segundo a natureza", à imagem (de Deus), e, em última instância, a um estado "supra-natural" ou "sobre-natural", à semelhança (de Deus). Segundo a doutrina dos Santos Padres, os estágios da vida espiritual são a purificação (metanoia), iluminação (theoria) e deificação (theosis). Tal paradigma de formação e transformação espiritual é, na Cristandade, exclusivo da prática cristã ortodoxa. Embora não concordemos com budistas e hindus a respeito do que é "iluminação" e "deificação", estamos de acordo no que tange o diagnóstico básico da condição humana decaída. Certa vez, eu disse a um budista tibetano praticante que "estamos de acordo quanto à doença (da condição humana); nós só discordamos quanto à cura".

A Ortodoxia -- especialmente a tradição hesicasta (contemplativa) -- ensina que o "conhecimento espiritual" pressupõe um noûs "purificado", "desperto", que é o "eu" interior da alma. Para os cristãos ortodoxos, o verdadeiro teólogo não é aquele que simplesmente sabe a doutrina, em termos intelectuais ou acadêmicos, mas é aquele que conhece Deus, ou os princípios ou essências interiores das coisas criadas, mediante a apreensão direta ou percepção espiritual. Segundo um famoso teólogo ortodoxo, "Quando o noûs está iluminado, isso significa que ele está recebendo a energia de Deus, a qual o ilumina...". Tal idéia soa bem aos ouvidos dos buscadores orientais que se esforçam em experimentar -- mediante ascese não-cristã ou métodos ocultistas -- a iluminação espiritual. A maioria dos buscadores orientais não está ciente de que a iluminação espiritual profunda, a qual nossa tradição hesicasta chama de theoria, exista em um contexto cristão.

O dhamma (prática) budista e hindu enfatiza a cessação do desejo como parte de sua ascese espiritual, a qual é necessária para apagar as paixões. A tradição da Igreja ensina a apatheia, ou desapego, como o meio para compater as paixões decaídas. Os métodos de meditação hindu e budista ensinam a "quietude". A palavra hesychia, na tradição cristã -- a raiz da palavra hesicasmo --, significa exatamente "quietude". Em especial, o Budismo ensina a "plena atenção". A tradição cristã ensina a "vigilância", para que não incorramos em tentações. Os hindus e budistas entendem que não é sábio viver para esta vida, mas sim se esforçar para a vida futura. Nós, ortodoxos, concordamos plenamente. Os americanos que se "convertem" ao Budismo ou ao Hinduísmo são freqüentemente pessoas que se esforçam para aprender línguas e culturas estrangeiras (sânscrito, tibetano, japonês) e sair de suas "zonas de conforto". Os convertidos à Igreja Ortodoxa também são assim. Algumas seitas budistas e hindus possuem formas complexas de "liturgia", as quais incluem cânticos, prostrações e venerações de ícones. O Budismo Tibetano, em particular, confere grande honra aos seus ascetas, relíquias e "santos".

A principal diferença no que tange a experiência espiritual está naquilo que as tradições orientais não-cristãs chamam de "iluminação espiritual" ou "consicência primordial" -- alcançada mediante contemplação profunda (Moksha, Samadhi) --, pois a tradição cristã ortodoxa chama isso de "auto-contemplação". O Arquimandrita Sofrônio (Sakharov) era um grande especialista em yoga (união) antes de se tornar hesicasta e discípulo de São Silvano da Santa Montanha. Eis o que ele disse, a partir de sua experiência pessoal: "Toda contemplação alcançada por estes meios (yoga etc.) é auto-contemplação, e não contemplação de Deus. Em tais circunstâncias, o que se revela a nós é a beleza criada, mas não o Primeiro Ser. Neste contexto, não há salvação para o homem". Clemente de Alexandria, há dois mil anos, escreveu que os filósofos pré-cristãos freqüentemente encontravam-se inspirados por Deus, mas que mesmo assim os cristãos deveriam tomar cuidado com o que aprendiam deles.

É verdade, portanto, que os buscadores orientais podem, mediante ascese ou disciplinas contemplativas, experienciar níveis profundos de beleza criada, ou ser criado, ou dimensões paranormais, até mesmo o "não-ser" do qual somos formados: mas isto não é a Vida Incriada. Será que são essas experiências que os buscadores orientais estão procurando? Esta é a pergunta-chave. Somente a Igreja Ortodoxa poderá, mediante os mistérios deificantes, levá-los à província da Vida Incriada. De todas a confissões cristãs, somente na Igreja Ortodoxa os buscadores orientais aprenderão que há mais na "salvação" do que apenas remissão de pecados e justiça divina. Eles serão levados a participar na energias incriadas de Deus e, por meio delas, serem participantes da natureza divina [II Pedro 1:4]. Enquanto membros do Corpo de Cristo, eles se juntarão ao processo deificante e, aos poucos, serão transformados na semelhança de Deus. A deificação está disponível a todos que ingressam na Santa Igreja Ortodoxa, são batizados (é o começo do processo deificante) e participam dos santos mistérios. Não é algo que está disponível apenas aos monges, ascetas e atletas espirituais.

A Ortodoxia tem muito a compartilhar com os buscadores orientais. Vida e morte estão à prêmio nesta vida, não nas milhões de vidas que os buscadores orientais pensam que têm. Conforme alertou o Apóstolo Paulo: Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27).

Que Deus nos conceda a sabedoria para estendermos a mão e compartilharmos a "luz verdadeira" da santa fé ortodoxa com os buscadores das tradições espirituais orientais.

Fonte: Kevin Allen.

Foto: Catedral Ortodoxa de Santa Sofia, Harbin, China.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

An Orthodox Comment on the Decline of Anglicanism


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An Orthodox Comment on the Decline of Anglicanism:
The Path to R.O.M.E., R.O.M.A. and R.O.M.A.N.Z.


The consecration in the USA of an active homosexual to the Anglican episcopate is leading to a Schism in the worldwide Anglican communion.

At first sight it may seem very strange that it is this which may lead to the final collapse of that denomination. Anglicanism was always based on a compromise between Protestantism and Catholicism in the desire to avoid the descent of a State into Civil War. For centuries Anglicanism has boasted of its 'comprehensiveness', the idea that 'dogmas' do not matter. As such, in the nineteenth century, Anglicanism laid the foundation-stone of ecumenism.

In recent decades it seemed not to matter in Anglicanism whether you believed or not in the Holy Trinity, in the Divinity of Christ, in the Resurrection, in the Virginity of the Ever-Virgin, in sacraments and therefore a male priesthood. Faith could be reduced to the lowest common denominator. Belief in the basics was optional. Being all things to all men, you could believe in anything you wanted - except in disunity. All the above divergences were indeed swept under the carpet - and as a result outward unity survived. And now this, the challenge to simple Christian morality, is leading to the suicide of a denomination.

However, looking more deeply at this phenomenon, we should not be surprised. The rejection of the fundamental revelations to the Church about the nature of God, the rejection of the 'dogmas' formulated by the saints of the first millennium, leads inevitably to the rejection of basic Christian morality. After an initial period of hypocrisy, sooner or later the collapse of the spiritual and dogmatic basis of any Christian group leads automatically to its moral collapse.

This is a law. Without spirituality, there is hypocrisy, followed by visible moral collapse. Here it is happening before our very eyes, proof that spiritual collapse always precedes moral collapse. The loss of belief in basic spiritual truths leads to the loss of belief in basic moral truths. Never underestimate the moral significance of the spiritual revelations of dogma.

Some are now looking to Catholicism as a refuge from Protestant divisions and sectarianism. But not many. Everybody knows that once the present ailing Pope has gone from the stage, Catholicism, especially in Western countries, may well implode. 99% of Western Catholics do not accept Papal Infallibility, clerical celibacy or rulings against artificial contraception. The gulf between the ordinary Roman Catholic and the Vatican has rarely been so wide. Pedophile scandals have ruined Catholicism, both morally and financially, even in recent strongholds like Ireland. In many ways the ill-health of Pope John-Paul II seems to be symbolic of that of a whole organisation, teetering on the brink of decay and division. An old, frail and shaky structure which is about to die, having come to the term of it historical existence.

Others look to the Orthodox Churches for authority. Certainly there, there is spiritual experience and therefore no lack of belief in the basic and obvious truths of Christian morality. But there they also see inward-looking, non-missionary Balkan Churches trying to come to terms with their compromises with the recent Communist past. The Serbs are showing independence, having thrown off politics, the Romanians are making some progress, the Bulgarians hardly any. As for the Greek Churches, with their fifteen million nominal members, the situation is, ironically for a Church which never underwent Communism, catastrophic.

Patriarch Bartholomew of Constantinople, leader of some four million Greek Orthodox worldwide, is in trouble everywhere, accused by Russians, Serbs and Greeks alike of trying to act as an 'Eastern Pope'. His interference in the internal affairs of the Churches of Jerusalem, the Ukraine, Estonia, Latvia and on Mt Athos has scandalised the Orthodox faithful. Now he has been challenged by the more powerful Archbishop of Athens, part of whose territory he is trying to take over. He has even offered to resign. He has been denounced in the recent book by the politically deposed Archbishop Methodios of Thyateira. Greek Orthodox laity in the USA are denouncing him for his lack of democracy. His very own Archbishop in Australia, Stylianos, with thirty years service, has denounced the politicking and meddling of a Patriarchate which seems to be in love with its own feeble power.

Therefore, others are now looking to the Russian Orthodox Church, which is coming out of a Babylonian captivity to Communism which lasted some seventy years. The Russian Church is by far the largest Orthodox Church, over 50% of the totality of Orthodoxy. It alone is truly multinational and always has been, covering one sixth of the Earth's dry land. It alone has some 1,000 monasteries. There is now hope that the Russian Orthodox Church can at last unite its forces and offer the world the only credible worldwide alternative.

It may not want this. It may be too inward-looking to contemplate this. It may not be able to free itself from its compromised Communist past. That would be tragic, because at this very moment, surrounded by the present and imminent spiritual and moral collapse of Protestantism and Catholicism, there are still sincere Christians all over the world who are looking for the leadership of the Church. Could it be the haven that many sincere and simple believers seek?

Last April, through its Patriarch, the Russian Orthodox Church proposed to set up in Western Europe a Metropolia for all Orthodox Christians of all nationalities who confess the Russian Tradition there. This would be the foundation of a future local Orthodox Church in Western Europe and thus the refoundation of the Roman Orthodox Patriarchate of the first millennium.

Since last April nothing has happened, there were far too many obstacles at that time, but some of them have already gone. Moreover, the concept of such a Metropolia in Europe is much talked about. Now that we are witnessing the decline of the Protestant and Catholic denominations all over the Western world, is it not possible that this is the path for the remaining Christians in the Western world, a return to the Orthodox Church?

In Western Europe will we live to see the birth of R.O.M.E. - theRussian Orthodox Metropolia in Europe?

In the Americas will they live to see the birth of R.O.M.A. theRussian Orthodox Metropolia in the Americas?

In Australia and New Zealand will they live to see the birth of R.O.M.A.N.Z. - the Russian Orthodox Metropolia in Australia and New Zealand?

Only Divine Providence will show us.

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